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MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY
por Charles G. Finney
CAPÍTULO XXIX.
AS OBRAS NO TABERNÁCULO, EM MOORFIELDS, LONDRES
Eu tinha aceitado o convite cordial do Dr. Campbell para suprir seu púlpito por algum tempo, e de acordo com isso, depois das reuniões de maio comecei a trabalhar honestamente, por um avivamento, apesar de não ter mencionado isso para o Dr. Campbell nem para ninguém, por algumas semanas. Preguei uma série de sermões com o objetivo de convencer as pessoas do pecado, quão profunda e plenamente fosse possível. Eu via de domingo a domingo, e noite após noite, que a Palavra começava a ter grande efeito. No dia de domingo, eu pregava pela manhã e à noite, e também pregava nas noites de terça, quarta, quinta e sexta-feira. Nas noites de segunda-feira, tínhamos uma reunião geral de oração no Tabernáculo. Em cada uma daquelas reuniões, eu falava ao povo sobre o assunto da oração. Nossas congregações eram muito grandes, e sempre no domingo, a casa ficava lotada.
A religião declinara de tal forma em Londres, naquela época, que pouquíssimos sermões semanais eram pregados, e me recordo de uma vez em que o Dr. Campbell me disse que acreditava que eu pregava para mais pessoas, durante as noites da semana, do que todo o resto dos pastores em Londres juntos. Já comentei que o Dr. Campbell tinha o salário pastoral, em sua congregação. Mas ele não utilizava esse salário para si mesmo, não mais do que uma parte dele, pois ele arcava com as despesas de suprir o púlpito, enquanto realizava os deveres paroquiais, que conseguia dentro de suas possibilidades, mediante a tantas pressões do trabalho editorial. Vi que o Dr. Campbell era um homem honesto, mas muito beligerante. Entrava sempre em controvérsias e discussões. Como diz a expressão americana, ele costumava atacar com vigor todos e tudo que não correspondesse a suas visões. Dessa forma ele fez muito bem, e ocasionalmente, temo algum mal.
Depois de pregar por várias semanas, na maneira que descrevi, eu sabia que era hora de chamar aqueles que tinham dúvidas. Mas percebi que o Dr. Campbell não tinha essa idéia em mente. De fato ele não se assentava num lugar de onde pudesse ver o que se passava na congregação, assim como eu conseguia ver a partir do púlpito, e mesmo se assim o fizesse, provavelmente não entenderia o que se passava. A prática naquela igreja era realizar um culto de comunhão a cada quinze dias, no domingo à noite. Nessas ocasiões, eles tinham um sermão curto, e dispensavam a congregação. Todos se retiravam, exceto aqueles que tinham ingressos para o culto de comunhão, que permaneciam enquanto aquela ordenança era celebrada.
Na manhã de Domingo à qual me referi, disse ao Dr. Campbell "Você tem um culto de comunhão hoje à noite, e eu devo realizar uma reunião para perguntas e respostas no mesmo horário. Há alguma sala, algum lugar nas proximidades para onde eu possa convidar o povo após a pregação?" Ele hesitou, e expressou duvidar que qualquer um compareceria a uma reunião como essa. Contudo, pressionei o assunto e ele respondeu "Sim, há uma sala de escola infantil, para a qual você pode convidá-los." Perguntei quantas pessoas poderiam ser acomodadas ali. Ele respondeu "De vinte a trinta, ou talvez quarenta." Então eu disse "Ah, mas não é grande o suficiente. Você não teria uma sala maior?" Com isso ele ficou estarrecido, e perguntou-me se eu achava que havia interesse o suficiente na congregação para garantir o convite que eu pretendia fazer. Disse-lhe que havia centenas de pessoas na congregação que viriam à reunião para tirar suas dúvidas. Mas disso ele deu risada, dizendo que era impossível. Perguntei-lhe se ele não tinha uma sala maior. "Bem, sim" ele respondeu, "temos a sala de aula da escola Britânica. Mas ela comporta mil e quinhentas ou mil e seiscentas pessoas, é claro que você não vai querer." "Sim, é essa sala mesmo! Onde fica?" perguntei. "Ah, com certeza o senhor não se arriscará a marcar uma reunião ali. Nem a metade comparecerá, eu presumo, do que poderia lotar a sala da escola infantil." Ele continuou dizendo "Sr. Finney, lembre-se de que está na Inglaterra, em Londres, e de que não está familiarizado com nosso povo. O senhor pode conseguir com que pessoas compareçam a uma reunião como essa que está disposto a fazer, nos Estados Unidos, mas aqui o povo não comparecerá. Lembre-se que nosso culto da noite acaba antes do pôr do sol, nessa época do ano. E o senhor supõe que no meio de Londres, diante de um convite àqueles que buscam a salvação de suas almas, e que estão ansiosos por isso, as pessoas se indicarão, à luz do dia, e diante de um convite como esse, dado publicamente, para participarem de tal reunião?" Eu lhe respondi "Dr. Campbell, sei melhor do que o senhor o estado no qual essas pessoas se encontram. O Evangelho adapta-se ao povo inglês tão bem quanto se adapta ao povo americano, não tenho temor algum de que o orgulho do povo impeça-os de responder ao chamado, da mesma forma que aconteceria com as pessoas nos Estados Unidos."
Pedi para que ele me dissesse onde era a sala, e para especificar de tal forma que eu pudesse mostrar o caminho às pessoas e fazer o apelo que pretendia. Depois de bastante discussão, o doutor consentiu relutantemente, mas me disse expressamente, que eu deveria assumir toda a responsabilidade, que ele não compartilharia indicações em particular sobre o caminho até o local, que ficava a uma pequena distância do Tabernáculo. As pessoas tinham que passar pela Rua Cowper, no sentido da estrada da cidade, alguns metros, e fazer a curva numa passagem estreita, para chegar ao prédio da escola Britânica. Então fomos para a reunião. Eu preguei de manhã e à noite, isto é, às seis da tarde, se bem me lembro. Preguei um curto sermão, e então informei ao povo o que desejava. Chamei aqueles que estavam ansiosos por suas almas, e que estavam dispostos a fazer imediatamente as pazes com Deus, para que viessem àquela reunião de instrução, adaptada a seu estado de espírito. Fui muito específico quanto ao grupo de pessoas que convidei. Disse "Professores de religião não estão convidados a participar desta reunião. Aqueles, e somente aqueles que não são cristãos, mas estão ansiosos pela salvação de sua alma, e que desejam receber instruções diretas sobre a questão de seu dever atual com Deus, são esperados." Repeti isso algumas vezes, de forma a não ser mal-compreendido. O Dr. Campbell escutou com muita atenção, e presumo que ele esperava, já que eu havia restringido meu apelo a tal classe, que pouquíssimos, se é que alguém fosse comparecer de fato. Eu estava determinado a não ter a grande massa das pessoas naquele local, e que aqueles que fossem, deveriam ter a consciência de que eram pecadores confusos em busca de respostas. Fui veemente nesse ponto, não apenas pelo bem dos resultados da reunião, mas também para convencer o Dr. Campbell que sua visão do assunto estava errada. Sentia-me inteiramente confiante que havia muita convicção na congregação, e que centenas estavam preparados para responder a tal chamado, de uma vez. Eu tinha plena convicção de que não estava sendo prematuro em fazer tal apelo. Prossegui então em apontar claramente o grupo de pessoas que eu gostaria que participassem, e como poderiam chegar até o local. Então dispensei a reunião, e a congregação se retirou.
O Dr. Campbell olhou pela janela, nervoso e ansioso, para ver a direção na qual o povo ia, e para seu total espanto, a Rua Cowper estava lotada de pessoas, apertando o passo para chegar à escola Britânica. Eu saí e caminhei com a multidão, esperando à entrada do prédio até que todos entrassem. Quando eu entrei, encontrei o lugar lotado. O Dr. Campbell tinha a impressão de que não havia menos do que mil e quinhentas ou mil e seiscentas pessoas presentes. Era uma sala grande, com bancos e carteiras, como eram usados nas escolas.
Havia, perto da entrada, uma plataforma, na qual os palestrantes ficavam, sempre que tinham reuniões públicas, o que freqüentemente ocorria. Logo descobri que a congregação estava plenamente convicta, e de tal forma que foi preciso que tomássemos certas precauções, para evitar uma explosão irrepreensível de sentimentos. Pouco tempo depois o próprio Dr. Campbell entrou. Observando tamanha reunião de pessoas, ele estava extremamente ansioso para estar presente, e em função disso, terminou rapidamente o culto de comunhão, para vir para essa reunião. Ele olhava maravilhado para a multidão reunida, e especialmente espantado com o sentimento explícito em meio ao povo. Dirigi a palavra a eles por um curto período de tempo, falando sobre a questão de nosso dever imediato para com Deus, e esforcei-me, como sempre faço, para fazê-los compreender que Deus esperava que eles se rendessem inteiramente à Sua vontade, abaixassem suas armas de rebelião, submetessem suas vidas a Ele como seu soberano por direito, e aceitassem a Jesus como seu único Redentor.
Eu já estava na Inglaterra há tempo suficiente para sentir a necessidade de ser muito direto, ao dar-lhes tais instruções para descartar sua idéia de esperar pelo tempo de Deus. Londres é, e tem sido há muito tempo, amaldiçoada com pregações hiper-calvinistas. Eu, portanto teci meus comentários com o objetivo de subverter tais idéias, nas quais eu supunha que muitos ali haviam sido educados, exceto poucas pessoas presentes que, creio eu, faziam parte da congregação do Dr. Campbell. Na verdade, ele mesmo havia me dito que a congregação que ele via dia após dia, era nova, que as multidões que lotavam a igreja eram tão desconhecidas para ele quanto para mim. Então, tentei em minhas instruções, por um lado, guardá-los contra o hiper-calvinismo, e por outro, contra o baixo arminianismo no qual eu supunha que muitos haviam sido educados.
Portanto, depois de apresentar o evangelho minuciosamente e de lançar a rede, preparei-me para puxá-la para a praia. Quando eu estava prestes a convidá-los a se ajoelharem e se entregarem completa e eternamente a Cristo, um homem gritou no meio da congregação, na mais profunda agonia mental, dizendo que de tanto pecar, já havia perdido seu dia de graça. Eu vi que havia o risco de um reboliço, abafei a situação da melhor maneira que pude, e convidei o povo a se ajoelhar, mas também para ficarem tão quietos, se possível, a ponto de escutarem cada palavra da oração que eu começava naquele momento. Com um claro esforço, assim o fizeram, para que pudessem ouvir o que era dito, apesar de tanto choro e soluço que enchia todas as partes da casa.
Então eu dispensei a reunião. Depois disso, realizei reuniões similares, com resultados similares, freqüentemente nas noites de domingo, durante todos os nove meses que permaneci com aquela congregação. O interesse tornou-se tão extenso que as reuniões para perguntas e respostas não cabiam mais no grande prédio da escola Britânica, e sempre que eu percebia que a impressão sobre a congregação era bastante profunda e generalizada, depois de instruir-lhes apropriadamente, e de colocá-los face a face com a questão da rendição plena e irrestrita a Cristo, chamava aqueles que estavam com a mente preparada para isso, para que se levantassem em seus lugares, enquanto eram entregues a Deus em oração. Os corredores naquele lugar eram tão estreitos e lotados que era impossível usar o que chamo de assento ansioso, ou as pessoas se mexerem pela congregação.
Muitas vezes, quando eu fazia esse apelo para que as pessoas se levantassem e se entregassem em oração, centenas se colocavam de pé, e em algumas ocasiões, se a casa de fato comportava tantos quantos era calculado, não menos do que duas mil pessoas se levantavam, em resposta ao apelo. De fato, a partir do púlpito, parecia que toda a congregação ficava de pé. E eu não chamava os membros da igreja, mas simplesmente pecadores a se colocarem em pé e se comprometerem com Deus.
No meio da obra, uma situação ocorreu que ilustrará a extensão do interesse religioso ligado àquela congregação naquela época. A situação à qual faço alusão foi esta: os dissensores na Inglaterra já se esforçavam por algum tempo para persuadir o governo a ter mais respeito por suas ações, do que estavam dispostos a ter, para a dissensão do interesse naquele país. Mas sempre obtinham uma resposta que indicava que a dissensão de interesse era pequena, se comparada com a de uma igreja já estabelecida. Tanto havia sido dito sobre o assunto, que o governo determinou a tomada de medidas para o equilíbrio de forças entre os dois lados, ou seja, entre os dissensores e a igreja da Inglaterra. Certa noite de sábado, sem qualquer aviso prévio, que levaria as pessoas a qualquer lugar a compreender ou até mesmo suspeitar do movimento, uma mensagem foi enviada secretamente para todos os lugares de adoração no reino, solicitando que indivíduos fossem selecionados para ficarem à porta de todas as igrejas, capelas e lugares de adoração, na próxima manhã de domingo, para fazer o censo de todos aqueles que entravam nas casas de todas as denominações. Tal aviso foi enviado ao Dr. Campbell, mas só fiquei sabendo depois. Em obediência às ordens, ele colocou um homem em cada entrada do Tabernáculo, com a instrução de contar cada pessoa que entreva, durante o culto da manhã. Isso foi feito pelo que entendi, por toda a Grã-Bretanha. Dessa forma mediram a força relativa de ambas as partes, em outras palavras, qual tinha o maior número de adoradores no domingo, os dissensores ou a igreja já estabelecida. Creio que esse censo provou que os dissensores eram a maioria. Mas seja lá como for o Dr. Campbell me disse que os homens colocados em cada porta do Tabernáculo reportaram um número de milhares a mais do que poderiam de fato entrar na casa. Isso mostrou o fato de que as multidões entravam, e não encontrando lugar para sentar ou ficar em pé, cediam seus lugares para outros. O interesse era tão grande que um lugar de adoração que comportava milhares de pessoas ficava tão lotado quanto o Tabernáculo.
Como ou quando todos vinham o Dr. Campbell não sabia, e de fato ninguém poderia dizer, mas que centenas e milhares se convertiam, não havia motivos para se duvidar. Na verdade, eu mesmo vi e conversei com um grande número de pessoas, e trabalhei dessa forma até o limite de minhas forças.
Na noite de sábado, pessoas com dúvidas e agonia, bem como recém-convertidos, vinham até meu escritório para conversar. Várias pessoas vinham todas as semanas, e as conversões se multiplicavam. Vinham, como depois vim a saber, de todas as partes da cidade. Muitos andavam vários quilômetros todo domingo para participar das reuniões. Logo comecei a ser abordado nas ruas, em diferentes partes da cidade, por pessoas que me conheciam, e que haviam sido grandemente abençoadas ao participar de nossas reuniões. De fato, a Palavra de Deus era abençoada, e muito abençoou Londres naquela época.
Certo dia o Dr. Campbell me convidou para entrar, e fazer alguns comentários aos professores da escola Britânica. Eu fiz isso, e comecei perguntando-lhes o que eles propunham que fizéssemos com sua educação, falando um pouco sobre sua responsabilidade a respeito disso. Tentei mostrar-lhes todo o bem que poderiam fazer, e que benção seria sua educação para eles mesmos e para o mundo, se a usassem da forma correta, e que perdição seria também para eles mesmos e para o mundo se a usassem de forma egoísta. Meu discurso foi curto, mas esse ponto foi fortemente pressionado sobre eles. Mais tarde o Dr. Campbell comentou comigo que um bom número deles, não me recordo agora precisamente quantos, haviam sido recebidos na igreja, que acordaram e foram levados a buscar a salvação de suas almas. Ele mencionou isso como um fato admirável, pois não tinha expectativa alguma de obter um resultado como esse.
O fato é que, pastores na Inglaterra, bem como aqui nos Estados Unidos, haviam perdido a visão num geral, da necessidade de pressionar as obrigações presentes na mente do povo. Quando me contou sobre isso, o Dr. Campbell disse "Ora, não entendo. Você não disse nada além do que outras pessoas já haviam dito." "Sim," eu respondi, "eles podem ter dito, mas diriam dessa forma? Teriam feito um apelo tão direto e explícito para a consciência daqueles jovens como eu fiz?" Essa é a dificuldade. Pastores falam sobre pecadores, e não geram a impressão de que Deus os ordena ao arrependimento imediato, desperdiçando seu ministério desta forma.
De fato raramente escuto um sermão que parece ser construído com a intenção de trazer os pecadores, de uma vez por todas, a encarar seu dever para com Deus. Era difícil extrair a idéia, a partir dos sermões que ouvíamos, tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra, que os pastores esperavam ou pretendiam ser utilizados como instrumentos para a conversão de qualquer um, naquela época.
Um fato que foi ligado à minha pessoa há algum tempo ilustrará bem o que acabo de dizer. Dois rapazes conhecidos um do outro, mas com visões muito diferentes acerca da pregação do evangelho faziam parte de duas igrejas, não muito distante uma da outra. Um deles teve um poderoso avivamento em sua congregação, e o outro não teve nada. Um tinha ascensões contínuas em sua igreja, e o outro não tinha nada. Certo dia encontraram-se, e aquele que não havia vivenciado nada em sua igreja perguntou a seu irmão qual seria a causa da diferença entre eles, e pediu-lhe um de seus sermões, para que pudesse pregar a seu próprio rebanho e ver se surtiria algum efeito diferenciado. O acordo foi feito, e ele pregou o sermão emprestado para seu povo. Era um sermão, que apesar de transcrito, fora construído com o propósito de trazer pecadores face a face com seu dever para com Deus. No encerramento do culto, ele viu que muitos estavam grandemente afetados, e permaneciam em seus lugares, chorando. Ele então pediu desculpas profundamente, dizendo que esperava não ter ferido seus sentimentos, pois não era sua intenção.
Minha mente também estava muito agitada, em vista da desolação moral da vasta cidade de Londres. Os lugares de adoração naquela cidade, como depois vim a saber, eram suficientes apenas para acomodar uma pequena parte dos habitantes. Mas eu estava muito interessado em um movimento que se espalhava entre os episcopais. Muitos de seus pastores vieram e participaram de nossas reuniões. Um dos reitores, o Sr. Allen, envolveu-se profundamente, e decidiu que tentaria promover um avivamento em sua própria paróquia. Mais tarde ele me informou que estabeleceu em diferentes pontos de sua paróquia, vinte reuniões de oração. Ele começou a pregar com todas as suas forças, falando diretamente ao povo. O Senhor abençoou grandemente seus trabalhos, e antes que eu fosse embora, ele me informou que não menos que mil e quinhentas pessoas haviam-se convertido em sua paróquia. Muitos outros ministros episcopais foram impulsionados, e com grande agitação em suas almas, realizavam cultos contínuos e prolongados. Quando fui embora de Londres, haviam quatro ou cinco igrejas episcopais diferentes, realizando reuniões diárias, e esforçando-se para promover um avivamento. Em todas as circunstâncias, eu creio, eles foram muito abençoados e renovados. Dez anos se passaram antes que eu visitasse Londres novamente para trabalhar na obra, e fui informado que aquele trabalho jamais cessou, que continuava e alargava suas tendas, espalhando-se por diferentes direções. Encontrei muitos dos convertidos, na segunda vez em que estive lá, trabalhando em diferentes partes de Londres, de várias formas, com muito sucesso.
Comentei que minha mente estava muito agitada por causa do estado em que se encontrava Londres. Raras vezes fui levado a orar mais por uma cidade em qualquer outro lugar do que em Londres. Algumas vezes, quando orava, especialmente em público, com as multidões diante de mim, parecia que não conseguia parar, e que o espírito de oração quase me fazia sair de meu corpo, em súplicas pelo povo, e por aquela cidade num todo. Eu havia acabado de chegar à Inglaterra e comecei a receber vários convites para pregar, com o propósito de tirar ofertas para diferentes objetivos: para pagar o salário do pastor, para ajudar a pagar pela capela ou para ajudar a levantar fundos para a escola dominical. Eu havia concordado com seus pedidos, e não podia fazer nada mais. Mas decidi não ir, não atender mais a tais chamados. Disse-lhes que não tinha vindo à Inglaterra para ganhar dinheiro para mim mesmo ou para eles. Meu objetivo era ganhar almas para Cristo.
Depois de ter pregado para o Dr. Campbell por quase quatro meses e meio, fiquei muito cansado, e a saúde de minha esposa estava muito afetada por causa do clima, e por nosso intenso trabalho. E aqui devo começar de forma mais particular, a descrever o que Deus fez por meio dela.
Até esse momento ela participara e assistira apenas reuniões para mulheres, e tais reuniões eram uma novidade tão grande na Inglaterra que ela havia trabalhado muito pouco nessa direção. Mas enquanto estávamos hospedados com o Dr. Campbell, ela recebeu um convite para participar de um chá, para mulheres pobres, sem escolaridade ou religião. Esses chás, como são chamados, são realizados na Inglaterra para reunir as pessoas por qualquer motivo em especial. Tal chá foi organizado por alguns dos cavalheiros e damas cristãos benevolentes, e minha esposa foi urgida a comparecer. Ela consentiu em ir, não imaginando que os cavalheiros permaneceriam na reunião enquanto ela fizesse seu discurso. No entanto, ao chegar lá, encontrou o lugar lotado, e com as mulheres, um número considerável de senhores, muito interessados nos resultados do chá. Ela aguardou um pouco, esperando que eles se retirassem. Mas como eles permaneciam e esperavam que ela assumisse a reunião, ela se levantou e, creio eu, desculpou-se por ter sido chamada para falar em público, sendo que não tinha o hábito de fazê-lo. Na época, ela era minha esposa há pouco mais de um ano, e nunca tinha viajado para o exterior comigo para trabalhar em avivamentos, até irmos para a Inglaterra. Ela fez um discurso nessa reunião, como depois me contou ao voltar para nossos aposentos, de mais ou menos quarenta e cinco minutos ou uma hora de duração, com ótimos e claros resultados. As mulheres desfavorecidas presentes pareciam estar muito tocadas e interessadas, e quando ela terminou de falar, alguns dos cavalheiros presentes se levantaram, e expressaram sua grande satisfação com o que acabaram de ouvir. Eles disseram que tinham preconceito com mulheres falando em público, mas não conseguiam ver objeções em uma situação como essa, e viam que aquilo claramente traria um bem tremendo. Então eles a convidaram a participar de outras reuniões similares, e ela o fez. Quando ela retornava, contava-me o que fizera, e dizia que não sabia como, mas que aquilo incitaria o preconceito do povo na Inglaterra, e talvez até causasse mais mal do que bem. Eu mesmo tinha esse mesmo temor, e expressei-me assim para ela. Ainda assim, creio que não a aconselhei a ficar parada e não mais participar de tais reuniões, mas depois de um pouco mais de reflexão, encorajei-a. Daí por diante ela ficou cada vez mais acostumada, enquanto permanecemos na Inglaterra, com esse tipo de trabalho, e depois que voltamos para casa, ela continuou a trabalhar com as mulheres, onde quer que fôssemos. Disso falarei mais em outra ocasião, quando falar sobre os avivamentos nos quais ela teve uma participação muito proeminente.
Muitos outros casos de interessantíssimas conversões aconteceram em Londres nessa época, em quase todas as classes sociais. Muito preguei sobre confissão e restituição, o que gerou resultados verdadeiramente maravilhosos. Quase todas as formas de crime foram denunciadas e confessadas. Centenas, e creio até que milhares de libras esterlinas foram pagas em restituições.
Todos que conhecem Londres sabem que de novembro a março, a cidade é muito gelada, e tem uma atmosfera na qual é quase impossível se falar ou respirar. Fomos para lá no começo de maio. Em setembro, meu amigo Brown, de Houghton, visitou-nos, e vendo o estado de saúde em que ambos estávamos, ele disse "Isso não dará certo. Vocês devem ir para a França, ou algum outro lugar no continente onde as pessoas não compreendam seu idioma, pois não haverá descanso para vocês aqui na Inglaterra enquanto vocês conseguirem falar alguma coisa." Depois de conversar sobre o assunto, decidimos seguir seu conselho, e fomos para a França por um tempo. Ele me entregou cinqüenta libras esterlinas, para cobrir nossas despesas. Fomos para Paris e vários outros lugares na França. Cuidamos para não fazer amizades e mantivemo-nos o mais em silêncio possível. A influência da mudança de clima na saúde de minha esposa foi notável. Ela recuperou toda sua força e voz rapidamente. Eu recuperei gradualmente minha vivacidade, e depois de uma ausência de mais ou menos seis semanas, voltamos para nossas obras no Tabernáculo, onde continuamos a trabalhar até o início do próximo mês de abril, quando voltamos para casa. Eu deixei a Inglaterra com grande relutância, mas a prosperidade de nossa faculdade parecia exigir que eu retornasse. Havíamo-nos interessado grandemente pelo povo da Inglaterra, e gostaríamos muito de permanecer por lá, prolongando nossas obras. Viajamos em um grande navio, o Southampton, que saiu de Londres. No dia em que zarpamos, uma multidão de pessoas, que estavam interessadas em nosso trabalho, reuniu-se no cais. A grande maioria era de jovens convertidos. O navio teve que esperar pela maré, e por várias horas o povo continuou ali, no espaço perto do navio, esperando para dizer adeus. A despedida de um povo com um coração tão amoroso tomou por completo as forças de minha esposa. Logo que o navio partiu, ela se retirou para nossa cabina. Eu permaneci no convés, olhando os lenços que eram acenados até que estivéssemos rio abaixo, fora de seu campo de visão. Assim foram encerradas as nossas obras na Inglaterra, em nossa primeira visita àquele país.
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