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Charles Finney
AULA 10 EM QUE CONSISTE A DESOBEDIÊNCIA À LEI MORAL
Ao discutir esta questão, irei: Mostrar em que não pode consistir a desobediência à lei moral.
1. Ela não pode consistir em malevolência ou na escolha do mal ou da aflição como um fim último. Parecerá, caso o consideremos, que a escolha de um fim implica a escolha dele, não sem motivo algum, mas por algum motivo e pelo próprio valor intrínseco dele ou porque a mente o valoriza pelo que é. Mas os agentes morais são constituídos de tal maneira que não podem ver a aflição como algo intrinsecamente valioso. Eles não podem, portanto, escolhê-la como um fim último nem considerá-la valiosa por si.
2. A desobediência à lei moral não pode consistir na constituição da alma ou corpo. A lei não ordena que tenhamos certa constituição nem nos proíbe de possuir a constituição com que nascemos.
3. Não pode consistir em algum estado inevitável, seja da sensibilidade, seja da inteligência; pois estes, conforme vimos, são involuntários; dependem dos atos da vontade.
4. Não pode consistir em atos externos, independentemente do propósito com que são executados; pois estes, como vimos, são controlados pelos atos da vontade e, portanto, não podem possuir caráter moral em si.
5. Não pode consistir em inação; pois a inação total é impossível para um agente moral. Os agentes morais são necessariamente ativos. Ou seja, não podem existir como agentes morais se não tiverem escolha. Eles precisam, por uma necessidade, escolher a favor ou contra a lei de Deus. Eles têm liberdade para escolher uma coisa ou outra, mas não podem se abster totalmente de escolher. Eles precisam escolher. A posse do livre-arbítrio e a percepção de objetos opostos de escolha ou incitando a mente ou desenvolvendo a confirmação racional da obrigação de escolher tornam inevitável a escolha de um ou outro caminho. A lei dirige como devem fazer a escolha entre eles. Se não fizerem essa escolha, é porque escolheram outro caminho e não porque não fizeram escolha alguma.
6. Ela não pode consistir na escolha do mal moral como um fim último. O pecado é só um elemento ou atributo da escolha ou intenção, ou é a própria intenção. Se é a própria intenção, então, fazer do pecado um fim da intenção seria fazer a escolha ou intenção terminar nela mesma, e o pecador precisaria escolher a própria escolha ou intentar a própria intenção como um fim: isso é absurdo.
7. A desobediência à lei moral não pode consistir em amor próprio. O amor próprio é apenas o desejo inato de felicidade. Trata-se de um estado totalmente involuntário. Sendo um desejo, não possui qualquer caráter moral, assim como o desejo de comer. Não existe mais pecado em desejar a felicidade e buscá-la de modo adequado, do que existe no desejo de comer e procurar resolver isso de modo adequado.
Em que consiste a lei moral.
A desobediência à lei moral deve consistir na escolha da satisfação própria como um fim. Em outras palavras, deve consistir essencialmente em comprometer a vontade e, pela vontade, comprometer todo o ser à indulgência do amor próprio como o fim supremo e último da vida. Isso é egoísmo. Em outras palavras, é procurar, por um meio proibido pela lei de Deus, a satisfação do anseio pelo bem pessoal.
Ela consiste em escolher a satisfação própria como um fim e por si, em vez de escolher, de acordo com a lei da razão e de Deus, o máximo bem-estar de Deus e do universo como um fim último. Em outras palavras ainda, o pecado ou a desobediência à lei moral consiste em consagrar o coração e a vida à satisfação dos desejos naturais ou artificiais em lugar da obediência à lei da inteligência. Ou, mais uma vez, o pecado consiste em ser governado pelos impulsos da sensibilidade, em vez de ser governado pela lei de Deus, conforme revelada na razão.
Que isso é pecado e todo pecado visto em seus princípios germinantes tornar-se-á manifesto se considerarmos:
1. Que esse estado mental ou essa escolha é a "mente carnal" ou o raciocínio da carne que o apóstolo afirma ser "inimizade contra Deus" (Rm 8.7). A representação geral das Escrituras é que o pecado consiste no espírito de satisfação pessoal. Esse espírito de satisfação pessoal é sempre representado na Bíblia como o contraste ou oposto da benevolência desinteressada ou o amor requerido pela lei. "Efraim dá fruto para si mesmo" (Os 9.16) é o resumo das acusações de Deus contra os pecadores.
2. Quando passarmos à consideração dos atributos do egoísmo, ver-se-á que toda forma de pecado não só pode, como deve, resumir-se em egoísmo, exatamente como vimos que toda forma de virtude resume-se e deve resumir-se em amor ou benevolência.
3. Pelas leis de sua constituição, a mente é necessariamente obrigada a escolher, como fim último, aquilo que considere intrinsecamente bom ou valioso em si. Essa é a própria idéia de escolher um fim, a saber, algo é escolhido pelo próprio valor dele ou pelo que é e por si, ou porque a mente o considera intrinsecamente valioso para si ou para o ser em geral ou para ambos.
4. Os agentes morais são, portanto, necessariamente obrigados a desejar o bem do ser, de maneira parcial ou imparcial, seja o bem de si próprio, seja o bem do ser em geral. Nada mais pode ser escolhido como um fim ou por si. Desejar imparcialmente o bem do ser, conforme vimos, é virtude. Desejá-lo de maneira parcial é desejá-lo não por si, mas de acordo com sua relação com o próprio eu. Em outras palavras, é desejar a satisfação própria como um fim, em oposição a desejar o bem do ser universal como um fim, e todo bem ou o bem de todo ser, de acordo com seu valor intrínseco.
5. Mas não pode acontecer de alguém desejar o bem de uma parte dos seres como um fim ou pelo valor intrínseco do bem deles? Isso não seria benevolência, pois a benevolência, como vimos, deve consistir em desejar o bem por si e implica desejar todo bem e o bem máximo do ser universal. Isso não seria egoísmo, já que não seria desejar o bem ou a satisfação de si mesmo. Seria pecado, pois seria um amor parcial ou escolha parcial do bem. Seria amar alguns de meus próximos, mas não todos eles. Assim seria pecado, mas não egoísmo. Se isso for possível, então existe a possibilidade, real ou hipotética, de um pecado não consistir em egoísmo. Mas vamos examinar se essa suposição não se reduziria ao egoísmo.
Dizer que escolho o bem por si ou porque é valioso para o ser, ou seja, em obediência à lei da minha razão e de Deus, implica que escolho todo o bem possível e todo o bem de acordo com seu valor relativo. Se, portanto, em obediência à lei da razão, um ser escolhe o bem dele mesmo ou o bem de algum ser como um fim último, ele necessariamente escolhe, pelo mesmo motivo, o máximo bem possível de todos os seres sensíveis.
A escolha parcial do bem implica a escolha do bem, não só por si, mas de acordo com sua relação com o próprio eu ou com certas pessoas em particular. Suas relações condicionam a escolha. Quando as relações com o eu condicionam a escolha, de modo que algo é escolhido, não por seu valor intrínseco, independentemente de suas relações, mas pelas suas relações, isso é egoísmo. Isso é uma escolha parcial do bem. Se eu escolho o bem dos outros, não o meu, e escolho o bem pela sua relação com eles, há as seguintes possibilidades:
(1) Porque amo essas pessoas com amor de afeição e desejo o bem delas por esse motivo, ou seja, para satisfazer minha afeição por elas, o que é egoísmo; ou
(2) Por causa de suas relações comigo, de modo que o bem para eles é de algum modo bom para mim, o que também é egoísmo; ou
(3) Porque são dignas, o que é benevolência; pois se desejo o bem para um ser porque ele é digno, devo valorizar o bem por si e desejá-lo particularmente para ele, porque ele o merece. Isso é benevolência, não uma escolha parcial do bem, porque é obedecer à lei da minha razão.
De novo: Se desejo o bem de algum número de seres, devo fazê-lo em obediência à lei ou de minha inteligência e de Deus, ou da minha sensibilidade. Mas se desejo em obediência à lei de minha inteligência, isso deve ser a escolha do máximo bem do ser universal. Mas se desejo em obediência à lei ou impulso de minha sensibilidade, deve ser para satisfazer meus sentimentos ou desejos. Isso é egoísmo.
De novo: Uma vez que a vontade deve ou seguir a lei da razão e de Deus ou os impulsos da sensibilidade, segue-se que é preciso que os agentes morais sejam egoístas ou benevolentes, não havendo outra opção, porque não há um terceiro meio pelo qual algum objeto de escolha possa ser apresentado. A mente não pode conhecer como objeto de escolha absolutamente algo que não seja recomendado por uma dessas faculdades. O egoísmo, portanto, e a benevolência são as duas únicas alternativas.
Deve-se, por conseguinte, lembrar que o pecado é uma unidade e consiste sempre e necessariamente em intenção última egoísta e nada mais. Essa intenção é pecado, e assim vemos que toda fase do pecado resume-se em egoísmo. Isso tornar-se-á cada vez mais aparente à medida que prosseguirmos no exame da questão da depravação moral.