A VERDADE DO EVANGELHO

MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY

por Charles G. Finney

CAPÍTULO IX.

RETORNO A EVANS' MILLS

Por esta altura estava sendo pressionado a continuar em Evans' Mills e acabei por ceder e dizer-lhes que permaneceria por ali, no mínimo por mais um ano. Estava noivo e prestes a casar e por essa razão desloquei-me a Whitestown, Oneida county em Outubro de 1824. Minha esposa fez preparações para uma casa; um ou dois dias depois de nosso casamento tive de partir para Evans' Mills e assim providenciar algum transporte para as coisas que minha esposa juntara. Disse-lhe para me esperar dentro duma semana.

O Outono antecedente a este, preguei por algumas vezes, à noite, num local chamado Perch River, a cerca de doze milhas a noroeste de Evans' Mills. Passei um Domingo em Evans' Mills e minha intenção lógica era voltar à minha esposa pelo meio da semana. Mas chegou alguém de Perch River com uma mensagem nesse Domingo, afirmando que um avivamento estaria lentamente em curso desde que pregara lá. Logo suplicou-me que lá fosse pregar de novo, no mínimo uma vez mais. Apontei para terça-feira à noite. Mas por fim desisti de voltar à minha esposa durante essa semana e continuei pregando por ali todo aquele tempo.

Logo de seguida este reavivamento se espalhou por Brownville, uma vila a uma considerável distancia dali, penso que para sul. Por fim, sob pressão do ministro de Brownville, acabei por passar lá todo o inverno na igreja de Brownville, escrevendo à minha esposa sobre as circunstancias da obra de Deus e que iria ter com ela assim que fosse da vontade de Deus, quando Ele assim proporcionasse.

Em Brownville sucedeu-se um trabalho de grande interesse, mas mesmo assim parecia difícil tarefa pô-los a trabalhar. Não conseguia desvendar alguém com santidade sóbria no meio de toda aquela gente e a política do seu ministro era tal que simplesmente proibia o desenrolar normal do reavivamento, a sua fluidez categórica. Laborei por ali sob grande dor e com muitos obstáculos pela frente. Descobria que muitas vezes o ministro e sua esposa se ausentavam das reuniões para frequentarem festas.

Eu era hospede dum Senhor B-, um dos presbíteros daquela igreja e um amigo muito intimo desse ministro. Um dia, porém, quando descia do meu quarto e pretendia sair para satisfazer alguns inquiridores angustiados, encontrei o senhor B- na sala, o qual me perguntou assim: "Sr. Finney, o que pensa será o problema quando alguém ora pedindo o Espírito Santo semana após semana e nada obtém de Deus?" Retorqui-lhe que acharia que ele estaria pedindo isso a Deus pelos motivos errados! "Mas que motivos então? Porque razão devo eu pedir a Deus Seu Espírito Santo? Se eu quero ser tornada numa pessoa feliz, isso está errado de minha parte?" Respondi-lhe que até Satanás poderia ter um motivo igual ao dele e citei as palavras do Salmista: "sustém-me com um espírito voluntário. (13) Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e pecadores se converterão a ti. Sal. 51:12-13. "Como vê, este Salmista não pedia o Espírito Santo para ser feliz, mas sim para que fosse útil na conversão dos transgressores a Deus". Havendo-lhe dito isto, virei-me e saí de pronto enquanto ele saia para seu próprio quarto também, mas muito chocado comigo.

Permaneci fora de casa até à hora do jantar e quando voltei ele encontrou-se comigo e se abriu logo com uma confissão. "Sr. Finney, devo-lhe um pedido de desculpas, quero que me perdoe. Eu irei-me consigo e devo admitir mesmo que minha esperança e desejo era nunca mais tornar a vê-lo sequer. Aquilo que você me disse fez-me entender que nunca me havia convertido e que nunca havia buscado a Deus a não ser para ser feliz apenas. Tive tal convicção dum egoísmo profundo que saí logo dali abruptamente. Quando o senhor saiu de minha casa, apenas orava que Deus levasse minha vida, pois nunca iria suportar a vergonha de saberem que sempre havia sido um homem enganado. Eu sou amigo íntimo de nosso pastor, viajei com ele para todo lugar, mais do que qualquer outro membro de nossa igreja. Mesmo assim descobri que era um dos maiores hipócritas de sempre na face da terra. Essa revelação era algo difícil de suportar e por essa razão desejava morrer e orei a Deus para que me tirasse a vida". Mas o que se deu desde ali, foi que se transfigurou num novo homem a partir de então.

Esta conversão trouxe com ela grandes benefícios para toda a obra de Deus. Poderia mesmo citar muitos casos adjacentes a este avivamento, mas como teria de mencionar muita coisa que me causariam dor pelo comportamento leviano de seu ministro e especialmente de sua esposa, prefiro nada divulgar sobre ele.

Cedo, na primavera de 1825, saí de Brownville a com meu cavalo  em busca de minha esposa. Estive ausente dela por cerca de seis meses após nosso casamento. Também nunca tivemos oportunidade de trocar muita correspondência por motivos óbvios. Saí e as estradas estavam escorregadias e descobri que tinha de parar para mudar as ferraduras  do meu cavalo e parei em Le Rayville, uma vila a cerca de três milhas de Evans' Mills. Enquanto meu cavalo era tratado, as pessoas descobriram que estava por ali e todos acorreram como um homem suplicando para lhes pregar à uma da tarde na sala da escola, pois não possuíam local de culto.

À uma hora a sala estava repleta, compactada mesmo. Enquanto pregava o Espírito de Deus desceu sobre eles com grande poder. Era tão grandioso e tão evidente o derramamento do Espírito ali que acedi a seus clamores para que permanecesse por lá ainda e resolvi passar ali a noite apenas, pregando de novo para eles essa noite. Mas a obra aumentou em proporção e à noite apontei para um outro culto no dia a seguir. Logo descobri que não poderia seguir no encalço de minha esposa. Pedi a um irmão que fosse buscá-la por mim, para que eu tivesse como ficar por ali. Ele assim fez e continuei com as pregações dia após dia, noite após noite e um enorme avivamento irrompru ali.

Devo mencionar que enquanto estava Brownville, Deus me havia manifestado duma forma muito admirável que iria derramar de Seu Espírito em Gouverneur e que me haveria de deslocar lá para ali pregar. Nada sabia daquela localidade, com excepção de que havia bastante oposição ao reavivamento em Antwerp, no ano anterior a este. Nunca poderei dizer porque Deus me revelou e manifestou o que se iria suceder ali em Gouverneur, mas sei agora tal como sabia então que tal havia sido mesmo uma revelação de Deus. Nem sequer pensava no local, tanto quanto me recorde, mas veio até mim esta revelação clara como a luz do dia que me deveria deslocar lá para pregar e que Deus derramaria Seu Espírito ali também.

Pouco depois, descobri um dos membros da igreja de Gouverneur, o qual passara por Brownville. Relatei-lhe o que Deus me havia transmitido e ele achou que eu havia enlouquecido. Mas exortei-o a que fosse para casa e que transmitisse isso mesmo aos irmãos locais e que se preparassem para a minha vinda e para a vinda do Espírito do Senhor. A partir dele descobri que não tinham ministro, que havia lá duas igrejas na cidade, uma perto da outra e que a igreja Baptista tinha pastor e a Presbiteriana não tinha. Também que um certo ministro muito avançado em idade havia-lhes ministrado a palavra antes e que havia sido demitido; por essa razão não tinham ninguém que lhes trouxesse a palavra de Deus com a regularidade necessária. A partir do que consegui saber dele, desvendei que a obra de Deus estaria em muito mau estado ali em Gouverneur. Senti também que este homem que me relatou tudo aquilo era tão frio de coração como seria um iceberg.

Mas por enquanto voltara aos meus labores em Le Rayville. Após labutar por ali durante umas quantas semanas, uma grande multidão local se havia convertido. Entre estas pessoas estava um Juiz de nome C-, um homem de grande influência ali, o qual estava muito acima da média de toda aquela gente. Minha esposa havia chegado entretanto, dias depois de haver mandatado sua busca. Aceitamos a oferta deste Juiz para sermos seus hóspedes. Mas uns dias depois a população urgia-me a que fosse pregar numa certa igreja Baptista numa cidadela de nome Rutland, onde Rutland se unia a Le Ray. Apontei ir pregar lá uma tarde. O tempo estava ameno e por essa razão andei cerca de três milhas até seu local de culto, atravessando uma floresta de pinhal. Cheguei cedo e descobri o local aberto mas sem ninguém lá dentro. Estava cheio de calor por haver andado até ali e entrei, assentando-me encostado a um pilar no centro do salão de culto. De seguida começaram a chegar as pessoas, espalhando-se pela sala toda. Logo foi aumentando a quantidade de gente que entrava e presumi que ninguém me conhecia e por essa razão não se haviam apercebido de minha presença ali. Permaneci quieto e ninguém que eu conhecesse havia entrado até então.

Entrou então uma jovem senhora como umas plumas em seu chapéu e vestida de certa forma alegre. Ela era alta, esbelta, manifestava alguma dignidade e movia graciosamente suas plumas. Ela entrou como que navegando e mostrando suas plumas a toda a gente, verificando que impressão causava a todos os presentes. Este caso atraíu toda a minha atenção porque era algo raro de se ver e mexeu muito comigo mesmo. Ela entrou e sentou-se atrás de mim, quando ainda não havia ninguém ali. Estávamos perto um do outro, mas ocupando lugares diferentes na mesma carreira de bancos. Virei-me e olhei para ela dos pés à cabeça, de alto a baixo. Ela notou que eu a estaria observando atentamente e olhou para o solo envergonhada. Perguntei-lhe levemente, com suavidade mas com muita seriedade se ela havia entrado ali para dividir a adoração com Deus e para que as pessoas a adorassem também, pois ela estava desviando a atenção das pessoas da adoração a Deus. Perguntei baixinho, mas de forma a que só ela me ouvisse perfeitamente, se queria ser adorada a par com Deus. Ela soltou um certo grunhido de mal-estar. Prossegui falando até que sucumbiu sob a repreensão e não mais pode erguer sua cabeça. Começou a tremer e quando já havia dito o bastante para que ela assegurasse toda a sua atenção sobre sua vaidade e leviandade de espírito, ergui-me e coloquei-me por detrás do púlpito. Assim que ela se apercebeu que era eu o ministro o qual iria trazer a mensagem, sua agitação alargou-se a olhos vistos, de tal forma que começou a ser notada por todos à sua volta também. A casa logo se encheu de gente e peguei num texto das Escrituras a partir do qual comecei a falar.

O Espírito do senhor foi sobejamente derramado sobre toda aquela congregação. No final do sermão, fiz algo que acho nunca haver feito antes: chamei a que entregassem seus corações a Deus e que quem quisesse se entregar a Deus, viesse e ocupasse os lugares da frente da sala de culto. Não sei porque o fiz, mas assim que falei, aquela jovem senhora foi a primeira a erguer-se. Ela saiu disparada de seu banco em manifesto desespero e tratou de tomar um lugar na frente. Ela quase que correu atropelando pessoas, sem se importar com ninguém mas consciente apenas da presença de Deus. Ela sucumbia em agonia de alma. Também muita outra gente se ergueu e ocupou os lugares da frente. Todos se resolveram ir viver para Deus e esta senhora na frente de todos. Descobri então que ela seria a vaidade em pessoa, considerada por muitos como a beldade local, vestindo-se muito vaidosamente no entanto.

Alguns anos mais tarde, encontrei-me com um certo homem o qual atraíra minha atenção nesse dia também. Inquiri sobre o estado daquela senhora e disse-me que a conhecia muito bem mesmo e que ainda vivia no mesmo local, casara entretanto e tornou-se numa pessoa bastante útil e numa crente seriamente comprometida desde então.

Preguei mais umas quantas vezes nesse mesmo local e surgiu então, de novo, a questão de Gouverneur diante de mim. Deus parecia querer-me dizer "Vai agora para Gouverneur, chegou seu tempo". O irmão Daniel Nash chegara uns dias antes desta ocorrencia e passou algum tempo ali comigo. Quando se deu este último chamamento para me deslocar a Gouverneur, tinha alguns compromissos assumidos na zona de Rutland. Disse ao irmão Nash: "Acho que o senhor deveria se deslocar a Gouverneur, ver tudo o que se passa por lá e se possível trazer-me um relatório pormenorizado.

Ele fez isso mesmo logo pela manhã seguinte e depois de se haver ausentado por dois ou mesmo três dias, voltou dizendo que achara por lá muitos que professavam religião, mas sob forte convicção do Espírito e que pressentia que Deus se instalara no meio das pessoas. Mas também me informou que achava que as pessoas ainda não se tinham apercebido de que era Deus quem operava neles. Logo de seguida informei as pessoas que me ia deslocar a Gouverneur para pregar lá e que já não teria como cumprir os compromissos antes assumidos de pregar em suas igrejas. Pedi ao Pai Nash para voltar logo para informar as pessoas que me deveriam esperar num certo dia marcado daquela mesma semana.

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